Com o dólar alto, mercado imobiliário vive período de incertezas para investidores
Cenário influencia pressão sobre Selic, mas pode atrair investidores internacionais
Por Breno Damascena – editada por Mariana Collini em 07/11/2024
O dólar chegou a R$ 5,869 no fechamento da última semana de outubro e alcançou o seu maior patamar desde maio de 2020 – o segundo maior da história. Atualmente, ele está cotado em R$ 5,79, mas o patamar alto coloca pressão sobre o anúncio da Selic nesta quarta-feira e pode influenciar os rumos do mercado imobiliário brasileiro.
Enquanto isso, investidores e especialistas estão atentos à flutuação do dólar para tomar decisões, mas já antecipam os potenciais impactos no segmento.
“O dólar alto pode resultar tanto em efeitos positivos quanto em efeitos negativos”, ilustra Bruno Loreto, fundador da Terracotta Ventures, empresa de Venture Capital focada em Real Estate. “Um dos pontos positivos é que no cenário atual é mais barato para os estrangeiros investirem aqui. Além disso, é mais acessível fazer turismo no Brasil, o que incentiva a demanda imobiliária por locações de curta temporada”, analisa.
Em contrapartida, ele aponta que o dólar mais alto pode pressionar a inflação e, por consequência, manter ou elevar as taxas de juros locais. “Além disso, com juros mais altos, a oferta de crédito se torna mais difícil e a demanda por imóveis fica negativa”, aponta Bruno.
Encarecimento das obras
O executivo também alerta que o aumento no dólar pode implicar numa maior dificuldade para as construtoras levantarem recursos para seus projetos e em mais custo com materiais de construção. Na visão de Tomaz de Gouvêa, sócio-gestor de fundos imobiliários da MAG Investimentos, o risco realmente existe.
“Hoje, a maior parte dos insumos utilizados na construção civil brasileira são desenvolvidos no Brasil. Porém, o dólar impacta diretamente no valor das commodities, como o aço, alumínio e cobre, que são muito comuns nos canteiros de obra e estão diretamente ligadas ao custo da obra”, aponta Gouvêa.
Ele também chama atenção para os impactos indiretos do dólar alto. “O setor depende muito do transporte de materiais pesados, então um aumento no preço dos combustíveis, por exemplo, vai encarecer o processo”.
Longo prazo
No entanto, os efeitos do dólar alto não devem ser vistos de forma instantânea. Pelo menos é nisso que acredita Loreto. “O comportamento do dólar é menos importante para o mercado imobiliário no curto prazo. O mais crítico são os motivos que fazem o dólar subir ou descer”, alerta.
O executivo entende que o plano de fundo por trás da flutuação do dólar está ligado ao cenário fiscal brasileiro. “Investidores querem ver sinalização do governo em ter um compromisso com controle de gastos e confiança de que o ambiente de inflação e juros estarão controlados. Sem isso, o temor é que a inflação acelere, os juros subam, a economia desacelere e por consequência o crédito e demanda imobiliária fique limitada”.
“Por isso, apesar de no curto prazo a economia e os ativos imobiliários estarem tendo uma boa performance, o comportamento do câmbio sinaliza a preocupação com o que vai no futuro”, sinaliza.
Crédito: Pawel/AdobeStock