Após ano em alta, crédito imobiliário deve cair em 2025
Setor acende sinal de alerta com receio de alta de juros e medidas de restrição
Por Breno Damascena – editada por Mariana Collini em 29/11/2024
À medida que a poupança perde relevância na estrutura de crédito imobiliário, 2024 chega ao fim como um dos anos mais proeminentes para o mercado brasileiro. O volume distribuído no período deve ser um dos maiores da história. No entanto, a curva deve cair no próximo ano, segundo estimativa de Sandro Gamba, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Dados da Abecip indicam que as contratações de crédito imobiliário com recursos da poupança e FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) devem chegar a R$ 300 bilhões, número bem acima dos R$ 250 bilhões alcançados em 2023. Apesar disso, as mudanças promovidas pela Caixa Econômica Federal para restringir o crédito acendem um sinal de alerta.
Entre as medidas aprovadas estão a limitação dos contratos de financiamento e a alteração do valor máximo dos imóveis financiados para R$ 1,5 milhão.
O movimento pode desencadear o aumento das taxas de juros do crédito imobiliário. “Estamos em um ambiente de alta demanda, mas com um custo de funding atrelado a curva longa da taxa de juros. Isto deve impactar a distribuição de crédito no ano que vem”, lamenta Gamba.
Para ele, a solução é o incentivo a outras ferramentas de crédito, como o CRI e a LCI no mercado de funding. “Antes, quando se falava de crédito imobiliário, só tínhamos a poupança. Ela era utilizada para tudo. Hoje, o crédito é infinito. O impacto desta fonte diminuiu, mas o mercado é resiliente e está criando instrumentos para fomentar o setor”, relatou o executivo.
O papel das linhas alternativas de crédito
Em painel no Summit Imobiliário, evento promovido pelo Estadão e pelo Secovi-SP para debater o presente e o futuro do mercado imobiliário no Brasil, Gamba afirma que é preciso equacionar o setor e ajustar as demandas para as alternativas possíveis.
“Os fundos da poupança devem ser usados onde eles são mais necessários. Ou seja, focados nas pessoas físicas, que precisam de um ciclo longo para pagamento”, orienta. “Neste caso, os outros atores devem recorrer a outros tipos de funding, como o CRI”, comenta.
A perspectiva de Gamba é acentuada por Inês Magalhães, vice-presidente de Habitação da Caixa Econômica Federal. “Entramos em 2025 com o esforço de manter os nossos investimentos no mesmo patamar”, antecipa.
Magalhães indica que algumas medidas já foram tomadas nesta direção, como a instalação de uma trava nos recursos do SBPE, com o limite de R$ 1,5 milhão para utilização do crédito. “Também temos o FGTS lastreando famílias com renda mensal de até R$ 8 mil e imóveis de R$ 250 mil, além do LCI para imóveis de até R$ 1,5 mi”, ilustra.
A vice-presidente afirma que a Caixa está analisando a criação de uma nova linha de crédito, atrelada ao CDI, para financiar imóveis com valor superior a R$ 1,5 milhão. “Visamos, também, a atração de fundos verdes para o setor imobiliário”.
“Entendemos que a poupança não representará pelo volume a mesma representação que teve no passado, mas nós temos uma avaliação de quais são as prioridades. É importante trazer o investidor instituição para a habitação e criar um papel mais aderente a estas instituições”, sinaliza Magalhães.
Crédito: Sergio Barzaghi/Estadão