Inovação habitacional: Alea, da Construtora Tenda, quer popularizar as casas de madeira no Brasil
Empresa pretende acelerar a produção em sua fábrica no interior de São Paulo das 1,5 mil unidades deste ano para 3,5 mil unidades em 2025
Por Circe Bonatelli (Broadcast) – editada por Mariana Collini em 06/11/2024
A fabricante de casas de madeira Alea está se preparando para ampliar sua produção nos próximos meses. A decisão vem após a empresa confirmar a viabilidade de trabalhar, com larga escala, em um mercado ainda pouco explorado pelas empresas e desconhecido da maioria dos consumidores.
A Alea é o braço de negócios da construtora Tenda para produção de casas de madeira, com partes estruturais feitas em fábrica e levadas para montagem no canteiro. Em outubro, a companhia atingiu a marca simbólica de 3 mil casas vendidas e 2 mil produzidas nos seus quatro anos de história. Os primeiros anos, segundo a companhia, foram para testes. Agora chegou a hora de pisar no acelerador.
Em 2024, o grupo estima fabricar 1,5 mil casas, o que representa 15% da capacidade instalada da sua planta industrial. Para o ano que vem, a previsão é acelerar, chegando a 3,5 mil, exatamente dentro do plano de negócios traçado.
A produção acontece na fábrica da Alea em Jaguariúna, a 122 quilômetros da cidade de São Paulo. Essa é a primeira fábrica do Brasil para produção massiva em woodframe, sistema construtivo baseado em madeira.
Na linha de produção são feitas as paredes estruturais e colocadas portas, janelas, dutos de energia elétrica e hidráulica, estrutura de telhado e pintura. A fábrica produz hoje 4,5 casas por dia. Em seguida, as partes vão de caminhão para montagem no canteiro. Atualmente, 40% da “obra” é adiantada dentro da fábrica. Os 60% restantes são etapas feitas no próprio local, como saneamento e fundação.
Com esse sistema, um condomínio de 100 casas fica pronto em cerca de 7 meses. Numa obra tradicional, em alvenaria, leva 18 a 24 meses.
“A tecnologia de woodframe, com a construção de casas de madeira feitas em uma fábrica, nos permite operar em cidades de qualquer tamanho dentro do Brasil”, disse o diretor operacional da Alea, Luis Martini. “Isso faz com que tenhamos uma otimização logística importante. Conseguimos produzir casas e montá-las em cidades a partir de 10 mil habitantes.”
A fábrica da Alea foi inaugurada em dezembro de 2021. Nos últimos dois anos, o foco não foi crescer rapidamente, mas testar a aceitação deste tipo de casa pelos consumidores, melhorar o produto e a eficiência da produção, disse Martini. “Hoje, estamos em patamar de crescimento, tanto de volume lançamento quanto de obras. A aceitação do produto tem sido muito grande, o que se reflete no volume de vendas”, disse o diretor.
A Alea lançou 1,6 mil unidades de janeiro a setembro de 2024, 34% mais do que no mesmo período de 2023. As vendas brutas atingiram 1,8 mil unidades, o triplo na mesma base de comparação. As casas têm sala, cozinha, dois quartos e um ou dois banheiros, com metragem de 44 a 57 metros quadrados. Elas são vendidas no Minha Casa Minha Vida ao preço médio de R$ 197 mil, que já cresceu 11% em um ano graças à velocidade de vendas satisfatória. Uma casa de alvenaria do mesmo porte costuma ter um custo um pouco superior a 200 mil.
Atualmente, os empreendimentos da Alea estão no interior de São Paulo (Mogi das Cruzes, Araraquara, Mococa, Assis, Caçapava, Itapetininga, entre outros) e há planos ir a Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul. A programação de lançamentos já tem um projeto previsto para Três Lagoas (MS). “Operamos em um mar azul. Construímos nas cidades do interior, enquanto as grandes construtoras estão nas capitais e nas regiões metropolitanas. Nosso maior concorrente é a autoconstrução”, observou Martini.
Dentro do grupo, o foco nos próximos meses será garantir que o aumento da produção da fábrica seja feito sem solavancos, superando riscos da operação e de processos. Essa é uma etapa fundamental do plano de negócios da Alea, pois permitirá o crescimento da receita e a diluição de custos, com expansão da margem. A Alea ainda dá prejuízo (foram R$ 35 milhões no vermelho no primeiro semestre). Se tudo der certo na linha de montagem, a previsão é ir para o azul no ano que vem.
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Foto: Werther Santana/Estadão