90% das médias e grandes indústrias no Brasil adotam alguma prática ambiental, diz IBGE
Iniciativas mais frequentes são relacionadas a resíduos sólidos, reciclagem e reúso e eficiência energética; setor de fabricação de bebidas é o que mais investe na área
Por Daniela Amorim (Broadcast) – editada por Mariana Collini em 21/09/2024
Nove em cada dez médias e grandes empresas industriais no País adotavam alguma iniciativa ou prática ambiental em 2023. Os dados são da Pesquisa de Inovação (Pintec) Semestral 2023: Indicadores Temáticos – Práticas Ambientais e Biotecnologia, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado significa que 8.758 das 9.827 empresas industriais brasileiras com 100 ou mais ocupados, uma fatia de 89,1%, implementaram ao menos uma iniciativa ou prática ambiental associada aos seus processos de produção. Ou seja, as demais 10,9% médias e grandes indústrias do País, 1.069 companhias, ainda não adotam qualquer prática ambiental em suas atividades.
Entre as que adotavam, as iniciativas mais frequentes foram relacionadas aos temas resíduos sólidos (mencionado por 79,6% delas), reciclagem e reúso (75,1%), eficiência energética (61,5%), recursos hídricos (57,1%), emissões atmosféricas (46,3%) e uso do solo (23,9%).
“Os resultados sinalizam que as iniciativas e práticas ambientais têm se difundido bastante nas empresas industriais, ainda que com intensidades distintas entre os diferentes setores”, avaliou o estudo do IBGE.
As atividades econômicas com maior proporção de empresas com pelo menos uma iniciativa ou prática ambiental foram: fabricação de bebidas (100%), fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (99,4%), fabricação de artigos de borracha e plástico (95,9%), fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (95,8%), e Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (95,1%).
Na direção oposta, os setores com menores adesões a essas práticas em seus processos produtivos foram: fabricação de produtos de madeira (81%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (75,1%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (56,4%).
Segundo o IBGE, 60,1% das empresas investigadas implementaram iniciativas relacionadas a pelo menos quatro temas mencionados e 18% detinham práticas em todos os seis temas. Apenas 9,7% das indústrias adotaram práticas em somente um tema.
O levantamento apontou que 73,2% das empresas investigadas realizaram algum dispêndio relacionado às iniciativas e práticas ambientais em 2023. Esses investimentos foram mais frequentes nos setores de fabricação de bebidas (92,6% das empresas), fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (88,4%) e fabricação de produtos do fumo (87,6%), mas menos adotados na fabricação de produtos de madeira (57,8%), fabricação de produtos diversos (57,5%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (31,1%).
Das empresas com práticas ambientais, 88,6% disseram ter como objetivo atender a normas ambientais, 87,7% relataram estratégia autônoma da empresa, 63,9% reportaram influência de fornecedores ou clientes, 44,9% apontaram influência da opinião pública e sociedade civil organizada, 44,1% apontaram atendimento a normas ambientais de mercados externos, 28,4% reportaram influência a concorrência, e 22,2% afirmaram atratividade de programas de apoio públicos ou privados.
Entre os principais benefícios obtidos através das práticas ambientais figuraram atendimento às normas legais (89,5%), melhora da eficiência operacional e redução de custos ou riscos (84,4%) e melhora da reputação e imagem (78,8%).
Os altos custos das soluções ambientais, a escassez de oferta de programas de apoio e fomento público e a escassez de recursos financeiros na empresa foram os principais obstáculos apontados para a adoção de práticas ambientais, tanto entre as empresas que possuíam algum tipo de iniciativa quanto entre as que não possuíam.
Das empresas com iniciativas ambientais, 53,0% foram influenciadas por regulações, e 22,7% foram influenciadas por políticas públicas de incentivo. Segundo o IBGE, o resultado mostra que há “amplo espaço para o aumento da influência dos incentivos públicos voltados para as iniciativas e práticas ambientais”, já que quase 80% das empresas afirmam não terem sido influenciadas por esses instrumentos.
Uso de biotecnologia
Em 2023, 10,2% das empresas industriais com 100 ou mais pessoas ocupadas realizaram alguma atividade com uso de biotecnologia.
“Uma mesma empresa pode fazer uso de biotecnologia de diferentes formas: como usuária final; usuária integradora; produtora; e para a Pesquisa de desenvolvimento (P&D) de produtos, insumos e processos. Entre essas categorias de uso, a de usuário final foi a mais apontada com 71,4% de utilização, seguida por usuário integrador (34,4%), produtor (29,9%) e P&D (19,9%)”, esclareceu o IBGE.
A Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis alcançou 55,3% de utilização de biotecnologia em suas atividades e processos, seguida pela Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (48,7%) e de Fabricação de produtos alimentícios (27,4%).
No ano de 2023, das 9.827 empresas pertencentes às indústrias extrativas e de transformação, 1.679 empresas (17,1%) publicaram relatório de sustentabilidade e 3.890 (39,6%) aplicaram os critérios ESG (sigla para Ambiental, Social e Governança, na tradução do inglês) em suas estratégias corporativas, apontou o IBGE.
Foto: Alaor Filho/Estadão