Sustentabilidade seguirá em pauta nos negócios do Boticário mesmo com pressão geopolítica, diz CEO

 Sustentabilidade seguirá em pauta nos negócios do Boticário mesmo com pressão geopolítica, diz CEO

Companhia dirigida por Fernando Modé registrou avanço na redução emissões na cadeia de fornecedores em 2024; segundo o gestor, critérios verdes usados em contratos devem permanecer ‘sem retrocessos’

Por Shagaly Ferreira

Os critérios ambientais adotados nas tratativas de negócios entre o Grupo Boticário e seus fornecedores, que têm metas de sustentabilidade estabelecidas para 2030, permanecem sem previsão de mudanças, apesar das atuais pressões globais contra a agenda ESG. Segundo o CEO da companhia, Fernando Modé, a empresa construiu uma base de negociações calcada em sustentabilidade já antiga com seus fornecedores, com alta capacidade de influência, de modo que não caberá “retrocessos”.

As exigências feitas aos fornecedores aparecem desde o início da relação comercial, que podem incluir auditorias para medir responsabilidade social, sustentabilidade ambiental, diversidade e inclusão. Com o fechamento do contrato, esses empresários se comprometem a atender normas de conduta para sustentabilidade da cadeia de suprimentos do Grupo.

Modé falou sobre o tema durante um encontro de divulgação de resultados ambientais referentes a 2024, ocorrido na quinta-feira, 8, para jornalistas. Nos dados, que foram divulgados para o público em geral nesta segunda-feira, 12, a companhia apresentou um cenário de destaque para a redução de gases de efeito estufa de escopo 3, categoria na qual estão incluídos os fornecedores.

“Existe um engajamento diferenciado (dos fornecedores) em virtude da condição privilegiada que temos de ser uma empresa com poder de negociação muito forte. Com a relação longa que estabelecemos, acabamos influenciando no sentido ambiental”, diz. “É uma situação de privilégio poder comandar o pensamento sobre o tema e até a execução dele.”

Segundo informações divulgadas pela empresa, o escopo 3, em 2024, avançou em 6% na redução de emissões, tendo como meta reduzir 17% delas até 2030. As emissões diretas do Grupo Boticário (escopos 1 e 2), com meta de redução de 42% no mesmo período, conseguiu diminuir apenas 1%. No entanto, 98,9% das emissões da companhia são oriundas do escopo 3, de acordo com a organização.

As empresas que fornecem produtos e serviços considerados estratégicos para o Grupo passam por monitoramento e avaliação de critérios socioambientais. Os critérios medidos vão desde a observação de iniciativas de promoção à diversidade até a adoção de práticas verdes. Em 2024, por exemplo, 59% das compras da companhia foram realizadas de fornecedores que tiveram pontuação igual ou superior a 60% nessa avaliação interna de sustentabilidade.

No ano passado, o Grupo contabilizou 4.453 fornecedores ativos. “Estamos em uma crescente. Estamos longe de saber tudo, mas o que sabemos, nós procuramos fazer. (Há, por exemplo) várias soluções que já fizemos dentro da empresa, que nós passamos para (fornecedores e franqueados), para que possam reproduzi-las nas suas empresas”, explica Modé. “Eu penso nesse tema mais na lógica de cooperação do que de competição, e não vejo retrocesso nenhum (no futuro), só avanço.”

Reciclagem x gestão hídrica

Dentre as metas de sustentabilidade estabelecidas para os próximos cinco anos que dependem da ação direta do Grupo Boticário, as ações relacionadas à logística reversa estão as que apresentam avanços mais significativos. A companhia conseguiu recolher e destinar para a reciclagem 40% das suas embalagens já em 2024, e reciclou 96% dos resíduos logísticos e industriais no mesmo período. Respectivamente, as metas para 2030 são de 45% e 95% para essas medidas.

Segundo o diretor de ESG do Grupo, Luis Meyer, parte desses resultados tem relação com o programa Boti Recicla, que desde 2006 disponibiliza ponto de coletas nas lojas para recebimento de embalagens vazias de produtos do Boticário ou de marcas concorrentes.

“A embalagem é um veículo necessário para conexão com o consumidor. E nós temos avanços fantásticos, em um trabalho com nossos times de pesquisa e desenvolvimento na redução dos pesos das embalagens, no incentivo do uso de refil. (O resultado também é fruto) do Boti Recicla, que dobra de tamanho de um ano para o outro, e correspondeu a 85% do total de embalagens recolhidas de 2023 para 2024.”

O desafio da companhia para 2030, entretanto, será alcançar a eficiência na gestão hídrica, que permanece no vermelho em relação aos objetivos futuros. Para os próximos cinco anos, o Grupo estabeleceu a redução de 25% do volume de água consumida por tonelada de produção. Em 2023, o índice alcançado, porém, foi de -5%, enquanto em 2024 foi de -2%, ou seja, houve maior utilização de água nos dois anos.

Meyer atribui o resultado negativo no aumento do uso de água ao crescimento da empresa, e diz que a eficiência hídrica está em escala, após um investimento de R$ 10 milhões na área, que deve melhorar as métricas futuramente.

“A complexidade aqui é que o Grupo cresce. Quando crescemos, produzimos mais, isso é natural. Produzir mais e reduzir 25% em uma década parece trivial, mas não é. Porém, temos a convicção de que vamos conseguir isso, por meio da melhoria da água de reuso e da circularidade da água.”

https://www.estadao.com.br/economia/governanca/pressao-geopolitica-negocios-sustentabilidade-boticario

 Foto: Daniel Teixeira

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