Atender diversidade de tons de pele é corrigir um erro antigo do mercado, diz CEO da Boca Rosa

 Atender diversidade de tons de pele é corrigir um erro antigo do mercado, diz CEO da Boca Rosa

Com sua marca de maquiagem, Bianca Andrade colocou no varejo físico 50 cores diferentes de base, em janeiro, e considera que falar sobre beleza é tratar de inclusão, e não de exclusão

Por Shagaly Ferreira

Por muitos anos, a grande diversidade de tons de pele da população brasileira era desproporcional ao número de produtos disponíveis para maquiá-la de maneira adequada. A desatenção para essa necessidade, para a executiva Bianca Andrade, era um “erro antigo do mercado” que precisava ser corrigido pelas marcas.

Ela mesma, por meio de sua empresa, a Boca Rosa, decidiu contribuir para esse processo de mudança. Em 2024, a companhia lançou 50 cores diferentes de um produto chamado Stick Pele, que pode ser utilizado como base, corretivo e contorno para o rosto, com o objetivo de que a diversidade do consumidor brasileiro fosse atendida.

“O Brasil é um país enorme, com mais de 144 tons de pele, e é extremamente necessário que essa diversidade seja atendida. (Atender à diversidade) não foi apenas uma necessidade do momento, foi um movimento de iniciar a correção de um erro antigo do mercado de beleza”, ressalta a CEO. “Ao falarmos sobre beleza, temos de falar sobre inclusão, não exclusão.”

Em janeiro, a Boca Rosa anunciou uma parceria de negócios com a varejista C&A para a venda de seus produtos de maquiagem nas lojas físicas, incluindo a linha Stick Pele. Segundo Andrade, o movimento tem o objetivo de ampliar o contato do público com os produtos.

“Queremos facilitar o acesso. Estar nas lojas físicas, assim como na Sephora, na Renner, na Riachuelo, além das perfumarias regionais, é garantir que nossa maquiagem chegue de norte a sul do País.”

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Ao longo da sua carreira, o que tem observado de diferenças sobre a ideia do que é um padrão de beleza dentro do mercado?

Nos últimos anos, vimos um movimento importante de questionamento e quebra de padrões. As redes sociais tiveram um papel enorme em dar visibilidade para diferentes corpos, peles e idades. Mas sinto que o mercado estagnou um pouco nesse avanço. Ainda tem muita maquiagem sendo feita só para um tipo de pele, um tipo de rosto. Eu me sinto no dever, enquanto empresária e comunicadora, de continuar aprofundando esse debate. A beleza não pode ser limitada. E na Boca Rosa a gente trabalha para mostrar que toda mulher merece se sentir linda, com produtos que acompanhem sua verdade, seu tom, sua textura de pele, sua idade. Compreendemos que a beleza está no reconhecimento das nossas diversidades.

O lançamento de sua marca já com uma cartela de bases para 50 tons de pele teve grande repercussão e foi visto como um movimento ousado no mercado. Por que, naquele momento, era importante atingir um público tão diverso?

Ter uma cartela extensa de cores era um objetivo meu desde sempre, e com o lançamento da marca independente conseguimos, pela primeira vez, realizar isso. O Brasil é um país enorme, com mais de 144 tons de pele, e é extremamente necessário que essa diversidade seja atendida. (Atender à diversidade) não foi apenas uma necessidade do momento, foi um movimento de iniciar a correção de um erro antigo do mercado de beleza, e fizemos isso também com a expectativa de ser referência e inspiração para outras marcas, mostrando que é possível. Mas é importante ressaltar que esse foi só o começo da discussão e ainda há muito a ser feito. Trazer 50 tons logo no lançamento da marca foi, sim, ousado, pela complexidade envolvida nos processos de produção e comercialização, mas foi uma escolha que acompanha o propósito e DNA de Boca Rosa. É uma escolha que continuaremos fazendo sempre.

E o quanto os temas de diversidade têm estado inseridos na cultura da marca e nos negócios da Boca Rosa?

Esse é um tema que está sempre nas nossas conversas, não apenas na marca de maquiagem Boca Rosa, mas na holding Boca Rosa Company como um todo. Temos uma frente de responsabilidade social e ambiental, e essa área se relaciona com todas as outras áreas da empresa, costurando projetos e trazendo em todas as nossas decisões uma visão ampliada sobre diversidade, coerência e responsabilidade. É um tema que está diretamente ligado ao DNA da companhia. Por isso sempre foi automático considerarmos a diversidade como parte do negócio e cultura.

Recentemente, estamos vendo um movimento de algumas empresas desistindo de estratégias em prol da diversidade, enquanto outras estão fazendo questão de reafirmar o comprometimento com a causa. No caso da Boca Rosa, qual o posicionamento em relação à agenda?

Atender a diversidade não é uma tendência para nós, é parte da razão da nossa existência. A Boca Rosa nasceu com esse propósito. Quando decidimos lançar o Stick Pele em 50 tons logo de cara, foi uma escolha que exigiu investimento, estudo, parceria com profissionais especializados, como o Tássio Santos (ativista e especialista em maquiagem e representatividade), e muita responsabilidade. O Brasil é um país gigante, com muitas nuances de beleza, e nossa missão é justamente evidenciar isso. Acreditamos que, ao falarmos sobre beleza, temos de falar sobre inclusão, não exclusão. E nosso compromisso vai muito além de marketing. Está no desenvolvimento do produto, na busca por compartilhar informação sobre maquiagem, na linguagem e nas ações com a comunidade. Em tempos em que algumas marcas voltam atrás, nós fazemos questão de seguir firmes nesse caminho.

Pesquisas de projeção têm mostrado uma perspectiva alta de envelhecimento da população brasileira. A marca já tem se preparado para atender esse público, pensando em substâncias para peles mais maduras?

Com certeza. Temos acompanhado de perto os dados e os desejos de quem consome Boca Rosa. E isso é uma oportunidade linda de criar produtos para pessoas que continuam se cuidando, se amando, se redescobrindo. Nossos produtos já são pensados para atender diferentes tipos de pele, inclusive as mais maduras. A fórmula do Stick Pele, por exemplo, tem vitamina E, é hidratante, vegana, hipoalergênica e tem excelente espalhabilidade. Queremos cada vez mais lançar linhas que abracem as diferentes fases da vida. A maquiagem precisa ser funcional e prática para todas as idades, e consideramos isso em todos os nossos produtos.

Os produtos da marca acabaram de chegar às lojas físicas da C&A. Quais são os objetivos desse movimento de aproximação com o público da varejista?

A nossa missão é incentivar, de maneira prática, que as pessoas descubram suas belezas. Estar presente nas lojas físicas é um passo importante para estarmos ainda mais perto de quem quer conhecer Boca Rosa. Queremos que nossos consumidores entrem nas lojas, experimentem, conheçam de perto a textura, a praticidade e a versatilidade dos nossos produtos. E mais, queremos facilitar o acesso. Estar nas lojas físicas, assim como na Sephora, Renner, Riachuelo, além das perfumarias regionais, é garantir que nossa maquiagem chegue de norte a sul do País. Queremos estar ao alcance de todos.

E quais os próximos passos da marca para atender às demandas da diversidade brasileira?

Vamos continuar desenvolvendo produtos pensados para a pluralidade brasileira. A diversidade faz parte dos nossos pilares. E estamos sempre estudando muito o mercado para trazer novidades, para que esses produtos, além de entregar uma qualidade incrível, entreguem também inclusão e pertencimento.

https://www.estadao.com.br/economia/governanca/diversidade-pele-boca-rosa-bianca-andrade/

Foto: Boca Rosa/Divulgação

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