Sustentabilidade no Carnaval: executiva da Riachuelo fala sobre o desafio de alcançar novos públicos

 Sustentabilidade no Carnaval: executiva da Riachuelo fala sobre o desafio de alcançar novos públicos

Taciana Abreu é diretora de sustentabilidade da varejista, que lançará no carnaval de Salvador a primeira malha de algodão agroecológico da marca

Por Shagaly Ferreira – editada por Mariana Collini em 28/02/2025 

Diante da necessidade de frear o aquecimento global, todo evento é oportuno para promover essa agenda, inclusive no carnaval, diz a diretora de sustentabilidade da Riachuelo, Taciana Abreu. Para a executiva da varejista de moda, trabalhar o tema nessa perspectiva é sair da bolha técnica do ESG, e promover uma conscientização para um público mais amplo, em um momento em que não se espera que o assunto seja tratado.

“Sobre sustentabilidade, falamos muito que a gente tem pregado para convertidos e sentimos que estamos falando muito o tempo todo para nós mesmos. E, aí, a gente começa a pensar em estratégias sobre como furar a bolha, como trazer esse assunto para onde as pessoas estão, para quem não fala e nem pensa sobre isso. E o carnaval é um pouco desse contexto para furar a bolha, pois não se espera um discurso de sustentabilidade no carnaval”, explica a gestora.

“Estamos praticamente perdendo a meta de 1,5° (do limite de aquecimento global) do Acordo de Paris. Temos de agir muito rápido e em escala. Isso significa que todo e qualquer momento é uma oportunidade, todo dia é dia de falar de hábitos mais sustentáveis. Não tem momento certo e nem errado”, complementa.

A ideia é um dos princípios por trás da mais recente iniciativa da companhia varejista no tema da agenda verde, que terá como palco o carnaval de Salvador, na Bahia. A companhia irá lançar no festejo a primeira malha de algodão 100% agroecológico, obtida no projeto intitulado “Agro Sertão”, gerido em parceria com Sebrae-RN (Rio Grande do Norte) e Embrapa, na região Nordeste.

O tecido oriundo do projeto dará forma às 6,4 mil camisetas que serão vestidas por foliões e trabalhadores do camarote Expresso 2222, do cantor Gilberto Gil. As peças são resultado da colheita e beneficiamento de 52 toneladas de pluma de algodão cultivados com fertilizantes naturais, por produtores da agricultura familiar.

De acordo com Abreu, o carnaval costuma ser um período marcado pelo uso de roupas com pouca vida útil feitas com poliéster, que possui alta pegada de carbono no seu processo fabril. A proposta da varejista, com o lançamento, é mostrar que pode haver alternativa sustentável até mesmo para esse tipo de vestuário.

“O carnaval é essa grande operação que gera toneladas de resíduos, na qual o poliéster reina soberano. Todo mundo produz camiseta para o carnaval, e acaba utilizando o poliéster, que é a fibra mais barata que temos e mais intensa em emissões de CO₂, por ser uma fibra sintética. Então, nós quisemos desafiar um pouco essa cena.”

Sem agrotóxico

Cultivado por 143 produtores durante três anos no Rio Grande do Norte, o algodão agroecológico utilizado no projeto “Agro Sertão” é do tipo herbáceo e caracterizado por ser produzido sem agrotóxico, utilizando somente biofertilizantes e defensivos da natureza. Somente por parte da Riachuelo, segundo Abreu, foram investidos R$1,5 milhão na tecnologia de produção sustentável.

“Entre os países produtores de algodão, o Brasil está sempre no topo do ranking. O algodão é muito relevante, só que é feito em larguíssima escala, de forma super mecanizada e com alto índice químico”, diz a gestora. “O modelo agroecológico, é, inclusive, passível de uma certificação orgânica, porque ele não leva nenhum tipo de químico e considera a saúde do agricultor, do solo e da biodiversidade local em primeiro lugar.”

Nas peças que serão destinadas ao Expresso 2222, além do algodão agroecológico, haverá tinta à base de água, com o objetivo de reduzir consumo de energia, químicos e emissões de carbono no processo gráfico.

Dados da empresa apontam que o insumo com produção agroecológica emite 46% menos gases de efeito estufa, mas ainda representa menos de 1% do mercado global. Após o lançamento da malha produzida com esse algodão, a produção deve ganhar maior escala e ser utilizada em camisetas disponíveis nas lojas da varejista em maio deste ano, que serão vendidas a partir de R$ 69.

“É um preço pactuado com o agricultor em cima do preço de mercado. Achamos importante ter, eventualmente, uma margem um pouquinho menor nesse projeto para conseguir garantir o produto em um preço acessível em relação ao algodão convencional, para ver como o cliente reage em loja. Não quero perder cliente por esse produto ser mais caro, pois queremos ter demanda para crescer a produção de algodão agroecológico.”

https://www.estadao.com.br/economia/governanca/sustentabilidade-carnaval-riachuelo-camisetas-algodao

Foto: Alyson Lima/Divulgação

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